quinta-feira, 18 de maio de 2023

REPÚDIO AOS ATAQUES À EDUCAÇÃO EM GOIÁS PROMOVIDOS POR GUSTAVO GAYER!




 


Em junho de 2022, um professor de Sociologia do Colégio Visão, em Goiânia, foi demitido por utilizar uma tirinha do cartunista André Dahmer em uma prova. É preciso ressaltar que o uso de quadrinhos é importante ferramenta de interpretação de texto e análise crítica da realidade. 


Em meados de Abril de 2023, a Universidade de Rio Verde (UniRV) de Goiás, retirou da lista de obras do seu vestibular o livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” do escritor Marçal Aquino. Um livro de 2005, premiado e que foi até adaptado para filme.


Já em maio de 2023, uma professora de Artes do Colégio Expressão, em Aparecida de Goiânia, foi demitida por usar uma camiseta com uma obra de Hélio Oiticica, um dos maiores artistas da história da arte brasileira, reconhecido internacionalmente.


O que estas três situações têm em comum? Além de terem sido claramente casos de censura, as situações mencionadas são alvo de um patrulhamento ideológico e terrorismo virtual promovido pelo deputado bolsonarista Gustavo Gayer. 


A tática do deputado é acusar os professores de “doutrinação ideológica esquerdista” nas escolas. Para tanto, ele recorre as mais diversas formas de fake news, além de recortes descontextualizados e sensacionalismo barato sobre qualquer conteúdo que considere polêmico, atuando, com nenhum preparo, como bússola moral apontando o que é certo ou errado na educação. Com isso, Gayer estimula seus seguidores a atacar redes sociais de professores, escolas, políticos e instituições, por vezes, “pedindo a cabeça” daqueles que simplesmente decidiram mediar o conhecimento historicamente produzido pela humanidade com os estudantes de maneira crítica.


É importante dizer que Gayer removeu do seu perfil no Youtube mais de 1600 vídeos com conteúdos sobre a esquerda, a Covid-19 e o sistema eleitoral brasileiro. Por que será? 


Alguém acredita que o deputado consegue interpretar de maneira não ideologizada um quadrinho que critica a violência policial, como a tirinha de André Dahmer? Que ele leu o livro que considerou “pornográfico”, de Marçal Aquino?  Que entende o “marginal” de Hélio Oiticica, como sendo aquele que foge ao padrão hegemônico?


O campo político de Gustavo Gayer, a extrema-direita, nunca se preocupou com a educação. Porém, ao perceber o potencial de votos que poderia atingir por meio do alarmismo acerca da situação da educação brasileira, (vale lembrar a invenção do Kit Gay, por exemplo, espantalho criado e utilizado para angariar votos dos conservadores) colocou um alvo nas escolas. 


O processo de uso político da educação se intensificou com movimentos como o da “escola sem partido”, que defende uma aparente neutralidade na educação, mas apresenta uma visão claramente enviesada de sociedade. Acusam os professores de doutrinação de esquerda quando na verdade clamam por uma doutrinação de extrema-direita. Pautam-se em determinados valores morais, costumes que consideram corretos, impedindo estudantes de ter acesso a discussões e reflexões de assuntos importantes que consideram polêmicos ou incorretos. 


Para piorar, Gustavo Gayer, que tem sua atuação parlamentar restrita a criar factóides mentirosos para ter mais seguidores e, por conseguinte, mais votos, promete promover um site que objetiva estimular alunos, famílias e até próprios professores a denunciar situações que consideram “erradas” dentro do contexto escolar. 


O que este projeto de denuncismo define como errado? Bullying? Falta de estrutura? Desvalorização dos professores? Adoecimento dos trabalhadores? Problema com merenda? Violência? Falta de materiais? Não! Errado é estimular o pensamento crítico, a pluralidade de idéias, a diversidade cultural, entre outros, à depender do desejo do deputado de polemizar. Neste sentido, fica claro que desvalorizar e perseguir professores não acontece ao acaso, mas obedece a um projeto.


Professores começam a se posicionar de maneira mais veemente para dar um basta nesta situação! A liberdade de cátedra é prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Os professores têm direito à liberdade de ensinar com base nas mais diversas concepções pedagógicas e abordar as situações presentes na sociedade em geral sem medo de sofrerem retaliações baseadas em projeções morais e fundamentalistas de um deputado que não entende nada de educação e só quer se promover a todo custo. 


A discussão levantada remete a Paulo Freire, não por acaso, odiado pela extrema-direita: “Não existe educação neutra, toda neutralidade afirmada é uma opção escondida”. Que os professores se mantenham resistentes e na luta por uma educação emancipatória, libertária e transformadora.


Aos demais defensores da liberdade de expressão, que seja dada a resposta que a censura merece: conheçam o trabalho do cartunista André Dahmer. Leiam o livro “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, de Marçal Aquino. Pesquise sobre Hélio Oiticica. Vamos apoiar os professores demitidos. E sigamos em busca de uma sociedade mais justa e solidária.