quarta-feira, 4 de setembro de 2019

NOTA DE FALECIMENTO



O Simsed vem por meio desta nota declarar imenso pesar pelo falecimento do professor  coordenador pedagógico do Colégio Estadual Machado de Assis, esfaqueado por um aluno dentro da escola, em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal nesta sexta-feira, dia 30 de agosto de 2019.


A investigação inicial aponta que Bruno Pires de Oliveira, de 41 anos, sofreu um golpe de arma branca (faca) por parte de um jovem (aluno) de 18 anos, o qual fugiu de moto após o fato. O crime aconteceu por volta das 12h30. O coordenador chegou a ser socorrido, segundo a polícia, para uma unidade de saúde em Águas Lindas de Goiás, da qual foi transferido para um hospital em Ceilândia, no Distrito Federal, todavia não resistiu ao ferimento e morreu no local em que recebeu atendimento.


Segundo Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), ao que tudo indica, o aluno ficou insatisfeito ao ser retirado de um projeto esportivo, como consequência de seu baixo rendimento escolar. Por esta razão, resolveu tirar satisfação com o coordenador agredindo-o com um golpe de faca.


O Sindicato Municipal dos Servidores da Educação (Simsed) expressa veementemente seu repúdio a todo e qualquer ato de violência aos professores, que já estão submetidos à inúmeras pressões burocráticas advindas das redes de ensino, bem como repudia também qualquer ato de violência contra alunos e/ou cidadãos, uma vez que a nossa pauta maior é a defesa de uma Educação de qualidade para todos para que a sociedade possa ser transformada em algo menos violento e transgressor como está atualmente.


A categoria dos Profissionais da Educação encontra-se cada vez mais adoecida, diante da sobrecarga de trabalho e das inúmeras problemáticas presentes no âmbito educacional. Em razão das infinitas funções a que lhe é atribuído, o professorado se vê sempre mergulhado em atividades afins durante dias, tardes e noites a fio, incluindo fins de semana, o que compromete gravemente seu bem-estar. Além disso, o professor tem se sentido cada vez mais inseguro com o que possa lhe afetar em sala de aula e/ou no interior do lócus escolar.


Diante da instabilidade demonstrada pelas famílias e estudantes, resultado da falta de investimento do governo há décadas em políticas públicas sérias nos setores de infraestrutura dessa sociedade, que tem como pano de fundo a lógica do capital, em que, de modo geral, os alunos manifestam constante desrespeito à figura de autoridade do professor em ambientes escolares, este, por sua vez acolhe todos os indivíduos, independente de sua situação afetiva e cognitiva demonstradas. Isso sem o menor respaldo “multifuncional” das Secretarias de Educação. Dessa forma, é fato que o professor precisa acolher alunos com necessidades educativas especiais, sujeitos com histórias de vida fragmentadas em dificuldades emocionais, sociais e econômicas.


Em resposta às agressões sofridas em seu ambiente, é comum a manifestação agressiva de muitos alunos àqueles que representam autoridade mais próxima, principalmente o Estado, no caso afigurada no professor, de quem é cobrado a manutenção da ordem e o cumprimento da disciplina, além da tarefa de ensinar. Com isso, já podemos visualizar no Brasil atos bárbaros de violência, chegando à máxima configurada em assassinatos, como foi o caso recente do professor coordenador Bruno Pires de Oliveira.


O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dispõe em seu Artigo 17 que, “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.” Porém, o Estado, o Ministério Público, os Conselhos Escolares, por várias circunstâncias se omitem quanto às diversas situações de risco em que se encontram esses indivíduos, abandonados por suas famílias e responsáveis. Logo, consequentemente estarão sujeitos à marginalização e criminalização social. Se omitem na atenção efetiva para estas questões não oferecendo suporte estrutural para o amadurecimento emocional e psíquico que sustente seus objetivos e sonhos.


Por outro lado, considera-se violência contra os servidores, qualquer ação ou omissão decorrente da relação de sua profissão que lhe cause morte, lesão corporal, dano patrimonial, psicológico ou psiquiátrico praticada direta ou indiretamente no exercício do seu trabalho, assim como a ameaça à integridade física ou patrimonial do servidor.


Com um olhar mais profundo sobre toda essa problemática, concluímos que não há no Estado de Goiás um projeto sério e eficiente que determine com clareza as medidas preventivas, bem como a possibilidade da criação de equipes multifuncionais nas superintendências regionais de ensino (SREs) para mediação eficaz de conflitos nas escolas estaduais e municipais.  O Estado permanece inerte sobre a efetiva prevenção e combate à violência nas escolas. Ao contrário disso, se aproveita destas situações mais graves para difundir o projeto da Educação de modelo militar adotando o sistema de repressão. Ao invés de tratar o mal  (problema) pela raiz, isso gerará problemas ainda maiores de explosão da violência, de modo que professores, demais trabalhadores e os próprios alunos permanecem  à mercê do descaso e consequente  insegurança.


Mais uma vez, o Simsed lastima a perda irreparável da vida de Bruno Pires de Oliveira e se solidariza com sua família bem como colegas e alunos do Colégio Estadual Machado de Assis. E conclama a todos para a Luta por garantia do direito à Educação justa, gratuita e de qualidade para todos.