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Nós, trabalhadores da Educação do município de Goiânia,
estamos estarrecidos com a onda de atitudes autoritárias e projetos populistas
adotados pela administração pública municipal, os quais atingem diretamente os
trabalhadores desta pasta, além de serem um meio de brincar com a boa-fé da
população.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996,
instituiu a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica. Isso
significa que é direito das crianças de 0 a 6 anos frequentar instituições
educacionais que realizem um trabalho de formação integral dessas crianças,
para que elas adquiram todas as habilidades necessárias, com vistas à qualidade de vida e ao desenvolvimento de suas potencialidades, bem como para que sejam atendidas em suas limitações, de modo que
avancem continuamente e tenham uma vida escolar de qualidade.
Para atender o que solicita a Lei, no município de
Goiânia foram instituídos os CMEI’s – Centros Municipais de Educação Infantil,
os quais se configuram como o maior avanço da educação municipal nas últimas décadas. Nessas instituições, até
o ano de 2011, o trabalho com as crianças foi realizado por profissionais formados
em Pedagogia e Magistério. A partir de 2011, o governo atual decidiu que, para
auxiliar o professor, o profissional poderia ser qualquer pessoa com formação
de nível médio, o que na prática vem se mostrando um verdadeiro desastre. As
pessoas com nível médio que chegam aos CMEI’s atraídas por uma falsa ideia a
respeito da facilidade do trabalho acabam por ficarem sem chão, ao perceberem o
tamanho da responsabilidade de cuidar e educar crianças de 0 a 6 anos.
Qualquer leigo reconhece a existência de estudos que
comprovam que é nessa faixa etária que formamos os traços principais de nossa
personalidade. São nos primeiros anos de vida que construímos a base do que
seremos, por isso precisamos de uma formação sólida e múltipla, que se preocupe
com todos os aspectos do desenvolvimento: social, psicológico, afetivo,
cognitivo, motor...Para tanto, é necessário que haja profissionais solidamente
formados e capacitados. Contudo, o que a realidade nos mostra é que as pessoas
com formação de nível médio podem até ter boa vontade, mas não têm o
conhecimento necessário para desenvolver um trabalho que realmente seja
significativo e que promova a formação integral da criança.
A situação piora muito quando essa pessoa de formação de
nível médio atua na condição de contrato especial, pois quem prestou o concurso
ao menos teve que estudar algo sobre a proposta da Rede Municipal da Educação;
o contrato não! Essa realidade é um desrespeito para com as crianças. Os
Direitos das Crianças estão sendo negligenciados pela gestão municipal,
que pensa apenas financeiramente e não
no oferecimento de uma educação de qualidade, que é obrigação e dever do
Estado, de acordo com a Constituição Brasileira.
No entanto, esse ainda não é o pior absurdo implantado na
educação municipal. Agora, desce do gabinete do prefeito municipal uma ordem
que não se coloca para ser discutida e sim cumprida. A ordem impõe que, já
nesse ano, dez CMEI’s funcionem nas férias de julho – isso mesmo, nas férias de julho! Por que as
instituições educacionais devem ser responsáveis pelos projetos populistas e
assistencialistas do governo? Onde estão as Secretarias de Esporte e Lazer,
Secretaria de Cultura e Secretaria de Assistência Social? Por que nas férias
esses órgãos não se responsabilizam pelos cuidados com as crianças, promovendo
colônias de férias, oficinas de teatro, de brinquedos, ou o que for da sua
responsabilidade?Por que colocar mais este peso nas costas dos profissionais da
educação?
Aos jornalistas, pedimos que façam um levantamento nas
clínicas de repouso: quantas pessoas estão em tratamento? Quantos são
professores ou já foram? Façam um levantamento junto à Secretaria de Educação
sobre o número de funcionários que foram
readaptados de função por motivo de doença, considerando que todos nós fazemos
uma série de exames para tomar posse e entramos em perfeita saúde na Rede –
quantos são esses readaptados? Por que chegaram a essa situação? Façam um estudo das profissões mais estressantes
que existem, as causas desse estresse e qual lugar ocupa a profissão de professor. Sei
que estes dados existem e são claros para todos. Qualquer pessoa que trabalha
num escritório, ou como manicure, gari, vendedor, se passar meia hora numa
escola, perceberá o tamanho da nossa responsabilidade, as precárias condições
que enfrentamos e o quão duro é nosso trabalho.
Diante de tudo isso, o governo atual ainda nos impõe
ainda mais uma responsabilidade: cuidar das crianças no nosso período de
descanso, que merecemos e sobretudo necessitamos para conseguirmos continuar
exercendo a profissão por mais 25 ou 30 anos. A situação traz ainda mais um
agravante: como garantir a integridade física, psicológica, afetiva, cognitiva
de nossas crianças, se nós, profissionais da educação, ficarmos com a nossa
integridade física em risco? Como poderemos cuidar das crianças ao longo do
ano, se não tivermos momentos para cuidar dos nossos próprios filhos? Como
poderemos cuidar, educar e garantir uma boa formação para os filhos de outras
pessoas, se os nossos ficarão à própria sorte?!
Nós, profissionais da educação, não aceitamos que os
Centros Municipais de Educação Infantil tornem-se
Colônias de Férias! Somos instituições de Educação, estamos cumprindo nosso
trabalho com qualidade. O ensino Infantil de Goiânia é referência no Brasil e
no mundo. Não podemos aceitar tamanho retrocesso e desrespeito!
Heliany Wyrta de Oliveira Revignet – Pedagoga, Professora
Coordenadora e Profissional da Educação da Rede Municipal de Ensino de Goiânia