Vivemos
na atualidade um fenômeno terrível: a falta de compromisso público. Gestores,
que em tempos de campanha prometem mundos e fundos, são incapazes de dar um
mínimo de dignidade ao povo que os elegeu. Até vemos um ou outro levantando
alguma bandeira, dizendo lutar por determinado grupo, no entanto, ao vasculhar
as "boas intenções" de cada um, sempre encontramos um interesse
próprio sendo contemplado em detrimento de outros.
Quando li O Povo Brasileiro,
achei pesado da parte de Darcy Ribeiro justificar essa postura do “jeitinho
brasileiro”, da pouca ética e do limitado envolvimento político como
consequências da colonização que marcou nossas origens e a constituição de
nosso povo (ladrões, piratas, aventureiros, renegados de Portugal, aqueles que
passaram a habitar essas terras no período colonial). Pensei comigo mesma: "Isso
já foi superado depois de tantas e tantas gerações!". Inocência a minha
querer debater com um pensador como Darcy Ribeiro. Hoje não me apego a culpados, mas penso que se
Darcy ainda estivesse vivo e quisesse fazer uma análise da evolução do
brasileiro, certamente ficaria estarrecido.
Recentemente, lendo uma noticia de jornal, me informei que
o governador do Estado ficou contrariado com servidores da Agrodefesa que se
manifestaram diante de sua presença, durante um evento de entrega de
equipamentos, ocorrido há poucos dias na Praça Cívica. Dizendo-se um democrata,
Marconi falou com todas as letras que, se aquele protesto fosse negativo ao
governo, ele retiraria uma gratificação
já concedida, mas ainda não informada aos servidores. Pensei comigo: "democrata"??
Não
sei se estou sendo utópica, mas quando iniciei a escrita deste texto, queria
entender como a nossa sociedade está chegando a esse ponto. Como pode o cidadão
não perceber que está sendo roubado todos os dias? Como pode aceitar ver cenas
chocantes de pessoas sendo arrastadas pelo chão em unidades públicas de saúde?
Como pode aceitar que seus filhos tenham uma escola superlotada, com
professores desmotivados e desvalorizados por toda uma sociedade?
Lembrei-me então de algo grave: também faço parte desses
ditos cidadãos. Recordo-me ainda que há poucos dias eu estava presente em uma
manifestação de professores, no entanto, já poderia ter feito muito mais, poderia já ter lutado outras lutas, segurado
outras bandeiras, usado minha voz em outras causas. Nesse momento, retomo minha
personalidade brasileira, aquela que muitas vezes só consegue lutar em causa
própria.
A partir dessa reflexão, posso garantir a quem ler esse
texto que irei rever minha postura enquanto cidadã. Tentarei lutar pela
coletividade, buscarei ser o mais politizada possível e assim, quem sabe, poder
deixar para trás a descrição feita por Darcy Ribeiro.
Eu estou disposta a fazer esse compromisso. E nossos políticos
e gestores públicos, topam juntar-se a mim? E você?
Adriana Lucia da Silva, professora
da rede Municipal de Goiânia