sábado, 9 de março de 2019

Homenagem ao dia 8 de março! Dia Internacional da Mulher Proletária

Em 1910, na II Conferência de Mulheres Socialistas, realizada na Dinamarca, foi definido o Dia Internacional da Mulher Proletária, proposto pela grande dirigente revolucionária, Clara Zetkin, em homenagem à luta das mulheres das classes exploradas e oprimidas de todas as nações.

A grande marcha histórica de operárias contra a fome, a guerra e o czarismo pelas ruas de Petrogrado, que se transformou em greve geral contra o regime czarista, pouco antes da revolução socialista na Rússia. Esse fato ocorreu em 8 de março de 1917, e pelo seu conteúdo de classe, essa data foi escolhida para unificar as celebrações do Dia Internacional da Mulher Proletária, que antes acontecia em dias diferentes em cada país.

Em virtude disso, o Simsed saúda às mulheres trabalhadoras com um Cordel em homenagem a uma grande heroína da nossa história, a gloriosa Olga Benário, assim como, publicamos suas cartas de despedida.

Miremos em mulheres como Olga Benário e tantas outras para seguirmos na luta por transformar essa cruel realidade! Acreditemos!

As cartas são essas:

ÚLTIMA CARTA ESCRITA AO MARIDO E À FILHA, DO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE RAVENSBRÜCK, ANTES DE SER CONDUZIDA À MORTE NA CÂMARA DE GÁS

(ABRIL/1942)
Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.

Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Corformar-me-ia, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver-me dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?

Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nos últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijo-os pela última vez.

Olga
Fonte: Instituto Luiz Carlos Prestes (http://www.ilcp.org.br/)

O cordel é esse:


Olga Benário Prestes
 a Flor Revolucionária
Musa do Cavaleiro da Esperança
 *
Por Jetro Fagundes*

Flor da lendária ideologia
Nasceu na Munique alemã
Mosca na sopa da burguesia
Sempre lutou pelo o amanhã
Ainda novinha, adolescente
Ela já dava demonstração
De ser uma mulher valente
Sem medo de tomar decisão
*
Olga, a Socialista atuante
Na base do heroísmo rompedor
Aprendeu ser linda militante
Com o pai, público defensor
Desde cedo esta idealista
Observava o seu genitor
Ser um advogado trabalhista
Do pobre operário sofredor
*
Com ele, em plena caminhada
Ela vai então se interessar
Por tantas ideias avançadas
Tempo da República de Weimar
Tempos dos mais desumanos
Um flagelo pro povo alemão
Que nem os anos henriquianos
De fome, arroxo, exploração…
*
Tempo dos altos desempregos
Falta de comida e de paz
Patrão só queria o chamego
Do lucro fácil, nada mais
Aos quinze anos de idade
Olga já tinha base cultural
Para ir à luta de verdade
Com valentia e muita moral
*
Tendo base cultural formada
Buscando sonhos dos amanhãs
Sempre vivia familiarizada
Com os pensadores alemães
Flor da juventude comunista
Apesar de muito nova, então
Passa a ser protagonista
Das lutas por transformação
*
Quando grupos de nazistas
Endurecem com perseguições
Olga se torna uma extremista
Liderando ações, reações
Quando o namorado foi preso
Olga, não ficou a lamuriar
Deixando todo mundo surpreso
Fez um resgate espetacular
*
Aos dezesseis anos de idade
Consegue invadir a prisão
Poe o parceiro em liberdade
Em um ato de heroica ação
E como numa cena de cinema
Tal libertação espetacular
Até hoje inspira mil poemas
No seio do Movimento Popular
*
Olga, dia e noite procurada
Por órgão nazista policial
Vai viver como refugiada
Em Moscou, soviética capital
Ao ouvir de um companheiro
Histórias de valentias mil
Quis conhecer um Cavaleiro
Imbatível no longínquo Brasil
*
Em Moscou, a Flor da Alemanha
Ouvia com ardor no coração
Proezas esperançosas façanhas
Do Cavaleiro feito de ação
Lá em Moscou, num certo dia
Sentiu a íntima palpitação
A ver o Cavaleiro da Poesia
Luís Carlos Prestes Capitão
*
Pelo Cavaleiro da Esperança
Ela no coração também sentiu
Desejo de lutar por mudanças
No país do latifúndio Brasil
Quando Olga Benário ativista
Aqui chega, vai morar no Rio
Imperava o regime fascista
Que na base do golpe surgiu
*
Aqui, a alemã Olga Benário
Com muita gente do Partidão
Junta-se a grupos libertários
Tentando popular revolução
História revela que fascista
Perito na arte de manipular
Chamava Intentona Comunista
Mas era revolução popular
*
Apesar de tão pouca massa
Era sim popular revolução
O Estado era uma desgraça
Sem legítima representação
Presa pela milícia varguista
Polícia da nefasta repressão
Que deporta a flor idealista
Para o país nazista alemão
*
Medida nefasta intolerante
Ainda estarrece esta nação
Deportaram mulher gestante
Para o campo de concentração
Tal crime hediondo marcado
Pra sempre registrado ficou
Na memória dos encarcerados
Do país que Olga tanto amou
*
Quem já leu Graciliano Ramos
Ou Fernando Morais, escritor
Sabe dos tratos desumanos
No governo Vargas repressor
E Olga, ao ser extraditada
Deportada pro país alemão
Teve a sua filha arrancada
Logo após nascer na prisão
*
Olga teve o mesmo destino
Dos prisioneiros alemães
Vítimas do estado assassino
Pior que os pit bulls cães
Matada de forma covarde
No país nazista policial
A sua luta até hoje arde
No seio do Movimento Social

Mulher avançada pra sua era
No jardim da mobilização
É eterna Flor da Primavera
Por combater a exploração
Assim, Olga Benário Prestes
Com sua afirmativa posição
Enfrentou sistema cafajeste
Nas entranhas da indignação
*
Flor linda das mais valentes
Mulheres que o mundo já viu
Era altamente consciente
Por isso jamais foi servil
Flor que combateu o nazismo
Grandes propriedades rurais
Defendeu o real socialismo
Era de guerra, também de paz
*
A mãe da professora Anita
Dizia qualquer coisa assim:
Pense numa coisa bonita
Quando o momento for ruim
A mulher valente militante
Foi uma vítima do ódio mortal
De quem oprime o semelhante
Praticando injustiça social
*
Flor que no íntimo profundo
Dizia com seu consciente tom
Lutei pelo melhor do mundo
Pelo justo, também pelo bom
Socialista valente guerreira
Cheia dos lampejos culturais
Provou como brava guerrilheira
História é a gente que faz
*
Valente guerreira amazona
Jamais ficou na acomodação
Falava mais de quatro idiomas
Também sabia pilotar avião
Mulher inteligente poliglota
Ela sim era uma intelectual
Diferente de um certo idiota
Presidente traidor do ideal
*
Musa das lutas socialistas
Desafiou o machismo de então
Sendo eximia paraquedista
E autêntica em sua opinião
Flor que honrou a ideologia
Nunca jamais iria aceitar
Ser chamada hoje de vadia
Nome de mulher soube honrar
*
Viva a linda Olga Benário
Musa dos Movimentos Sociais
Presente em atos libertários
Em busca de Justiça, pão, paz
E viva Olga, a flor querida
Que nunca se rendeu, jamais
No poema aqui foi definida
Por meus amigos intelectuais
*
Comunista, rebelde e judia
Fiel aos ideais das paixões
Era uma militante da poesia
No campo dos sonhos e ações
Mulher altamente inteligente
Forte, não era só de sonhar
Também sabia agir humanamente
E com muita coragem de lutar
*
Flor do Cavaleiro da Esperança
Determinada nas puras convicções
Tinha uma habilidosa liderança
No comando das ideais ações
E por combater a intolerante
Política nazi fascista mundial
Ainda tem papel preponderante
No Socialismo Internacional
*
E viva Olga Benário Prestes
Uma inimiga declarada mortal
Do capitalismo, grande peste
Promotor da injustiça social
*
Revolucionária dedicada
Sua saga revelação nos traz
De ter sido bem disciplinada
No embate das causas sociais
Comunista valente lutadora
A flor do movimento popular
Guardiã, foi mulher rompedora
Boa mãe e esposa exemplar
*
*Jetro Fagundes é cordelista. Nasceu e mora na Ilha de Marajó (Pará). Vende nas ruas o mais popular dos alimentos dessa região, a farinha, o que lhe rendeu o título de Farinheiro Marajoara.  É autor de um livro de poemas , chamado “Jesus, o Cristo Libertador”, onde busca apresentar um Jesus histórico. É ainda autor do livro de cordéis “Versos libertários não morrem”. Colabora com o “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna: “Ventos do Marajó“
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FONTE
http://quemtemmedodademocracia.com/2015/03/06/jetro-fagundes-a-flor-revolucionaria-um-cordel-para-olga-benario/