O
SIMSED denuncia esse absurdo caso e reproduz abaixo uma carta do professor
destinada a toda a comunidade educacional aos democratas de Goiânia.
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Parece ficção, mas é a realidade, é
estranho, mas é verdade, parece piada, mas de fato aconteceu. Nas comemorações
pelo dia dos professores na Escola Municipal Bárbara de Souza Morais, a
diretora chegou ao corpo de professores, antes de sairmos para a recepção que
os estudantes haviam preparado para nós, com a bomba: no próximo ano o
agrupamento das “I’s” irá fechar. Situação colocada como irrevogável pela
diretora, entretanto como bondosa que ela é, já haveria um colégio conseguido às
pressas para fazer essa “desova” de alunos.
A diretora pediu um certo favor, que
ninguém conversasse com os estudantes sobre o fato descrito, pois ela gostaria
de conversar primeiro com os pais. Pois bem, falou ela com os pais e lhes deu o
ultimato sobre a saída de seus filhos no próximo ano. Mas como bem conhecemos a
estrutura autoritária da nossa educação, sabemos que isso não foi passado por
um conselho escolar, que sequer foi formado e o qual deveria ter direito a voto
e voz, não se foi perguntado aos estudantes o que eles pensavam sobre a
situação, que do meu pequeno ponto de vista parece serem os mais afetados.
Diante de tantas aberrações foi
necessário um processo de esclarecimento da situação aos estudantes sobre o
caso, principalmente sobre a perspectiva autoritária da Secretaria de Educação
de decidir fechar um agrupamento sem ao menos se dar ao trabalho de saber o que
a comunidade pensa a respeito, se essa mesma comunidade não precisa desse
colégio oferecendo o ciclo completo. Afinal, quais impactos gerariam sobre essa
comunidade, que dificuldades essa atitude geraria, facilitaria ou dificultaria
a vida desses estudantes? Nada disso foi sequer cogitado.
Muito pelo contrário, a
justificativa vem de um suposto estudo de rede, que de estudo não tem nada,
afinal, qual a metodologia desse estudo? Ele possui uma abrangência histórica,
mostrando as necessidades de cada região, os problemas de cada colégio, suas
deficiências, sua falta de estrutura, sua falta de investimento? Tal estudo
contempla a precarização do ofício de educador?
Do meu ponto de vista não. Do ponto
de vista da tela do computador aberta com cálculos mal feitos que se restringem
a quantos alunos existem na região, para onde podem ir e onde se pode
amontoá-los, que é o que a secretaria faz, também penso ser no mínimo
oportunista a perspectiva da Secretaria. No colégio Patrícia Rodrigues de
Paiva, a Secretaria praticamente empurrou goela abaixo que os professores
aceitassem a educação infantil. O colégio já conta com os ciclos I e II, mas
não possui a mínima estrutura para receber o outro nível e terá que fechar
salas dos ciclos I e II para abrir espaço para os recém-chegados.
Um cálculo no mínimo bizarro foi
feito, o qual mostra que se tirando mais salas para colocar mais pessoas se
consegue atender ainda com menor qualidade. Não serão criadas novas salas nem
contratados mais profissionais, só a boa e velha precarização das condições de
trabalho. O que de fato está sendo criado pela prefeitura é um déficit gigante na segunda fase do ensino
fundamental, fazendo com que inúmeros estudantes tenham suas vidas ainda mais
dificultadas para conseguirem uma escola, já que o estado fechou várias escolas
e as tentativas pífias de educação integral não estão surtindo resultado.
A prefeitura não conseguirá oferecer
todas as vagas necessárias à educação infantil, como também “de brinde” vai
gerar um problema seríssimo na segunda fase do ensino fundamental, ou do ciclo
III, deixando vários alunos sem colégios para poderem ir. E como já é prática
na prefeitura, a perseguição daqueles que se mobilizam para lutar contra essas
práticas, eu José Luciano Pereira Neto fui afastado do meu cargo como professor
de história da E.M. Bárbara Souza de Moraes e removido da minha antiga lotação
na SME, no dia 22 de outubro, a diretora do DGP simplesmente impôs a minha
remoção sob a alegação de “não vestir a camisa da empresa”, me removendo para a
E.M Pedro Costa, no Jardim Guanabara, que a propósito, não precisava de professor
e, posteriormente, para a E.M. Patrícia Rodrigues de Paiva.
Desde então venho sendo alvo de
constantes assédios morais, fora a remoção contra a minha vontade, por motivos
de discordar de uma prática ilegal da prefeitura, fui ainda alvo de difamações,
com membros do antigo colégio em que eu lecionava que espalharam boatos que eu supostamente
teria agredido uma aluna. A Secretaria constantemente pede detalhes da minha
atuação na escola para qual eu fui transferido, já tendo sido informado que a
prefeitura pretende me remover no próximo ano novamente, algo que já foi
inclusive anunciado pelo apoio pedagógico no último planejamento.
Portanto, devido a esses
acontecimentos venho anunciar que um processo foi aberto no Ministério Público
Estadual, contando com a aprovação de mais de 90% dos estudantes da E.M Bárbara
Souza de Moraes, aprovado em assembleia estudantil no dia 22 de outubro de
2018, a qual deliberou pela não aceitação do fechamento do agrupamento das I’s,
e tendo reunido um abaixo-assinado com assinaturas dos estudantes, pais e
comunidade escolar para a continuidade do referido agrupamento. Uma comissão
composta por membros da comunidade escolar entrará com o processo no Ministério
Público, visando a tomar as medidas legais contra o fechamento do agrupamento.