O movimento dos caminhoneiros vai marcar a história do povo
brasileiro, devido a magnitude que adquiriu sua luta. Esse movimento precisa
ser compreendido e principalmente saudado pela audácia, combatividade e
persistência que tem demonstrado até o momento.
O aspecto central da luta dos caminhoneiros foi o fato dela
escancarar as políticas do imperialismo que atualmente estão em curso no país.
No caso do petróleo e seus derivados, o governo Temer fez de tudo para
beneficiar as grandes petrolíferas, isentando-as do pagamento de trilhões de
impostos, entregando o pré-sal, portanto, aprofundando a relação neocolonial do
Brasil com o imperialismo.
Para piorar a situação, o presidente da Petrobrás, que é um
quadro do imperialismo ianque, estabeleceu uma política de preços de acordo com
a variação do dólar, provocando sucessivos aumentos. Além do mais, ele aumentou
a exportação de petróleo, que é refinado nos Estados Unidos e depois importado
para o Brasil. Toda essa política de Pedro Parente e Temer beneficia apenas os
acionistas da Petrobrás, as grandes petroleiras (sete irmãs) e a oligarquia
financeira, sacrificando os interesses do Brasil e de seu povo.
Esse movimento grevista foi desencadeado pelos
caminhoneiros, que se opuseram à política de preços da Petrobrás e puseram em
cheque os interesses do imperialismo. O Estado respondeu de forma brutal e
repressiva, colocando o exército e as polícias para reprimirem os piquetes, com
cassetetes, bombas e prisões. Toda essa repressão do governo foi acobertada
pelos monopólios dos meios de comunicação, que fizeram várias reportagens
criminalizando os caminhoneiros e mostrando o caos que a greve estava
provocando com o desabastecimento das cidades, com o intuito de jogar as
pessoas contra o movimento grevista.
Por outro lado, diferente do que alguns dizem, ocorreu foi
uma onda de solidariedade aos caminhoneiros, desde pessoas que iam doar
alimentação aos grevistas nos piquetes, a inúmeros atos e manifestações
ocorridas em várias cidades brasileiras em apoio a essa greve. Quem não aderiu
ao movimento, para que ganhasse mais densidade, foram as centrais sindicais,
que não convocaram uma greve geral. Isso ocorreu por inúmeros motivos políticos
e eleitoreiros, não em defesa dos trabalhadores. Esse poderia ser, de fato, o apoio
ativo da população, a organização da greve geral.
Os caminhoneiros deram um grande exemplo e conseguiram
paralisar o Brasil. Diferente da tese defendida pelo governo, pelos meios de
comunicação e setores do oportunismo, essa greve não foi um lockout, ou seja,
paralisações impostas pelos patrões. Também não foi um movimento espontâneo,
pois ele foi definido, organizado, preparado e executado após assembleias dessa
categoria que convocou essa paralisação geral. Portanto, a luta foi organizada,
não ocorreu de forma súbita, do dia para a noite, não surgiu a partir de um
momento em que iluminadamente todos despertaram a consciência de classe e
saíram para a luta. Foi a partir desse impulso e dessa convocação que a luta
ganhou força e se estendeu pelo país afora, com de vários piquetes de
caminhoneiros e apoiadores. Todas as insatisfações acumuladas foram o
combustível para a revolta dos caminhoneiros a o desencadeamento desse
movimento grevista. Pode até ter existido empresários do transporte que
apoiaram o movimento com o intuito de garantir benefícios tributários, porém, a
questão central não foi essa, e sim o impacto direto sobre os custos do
transporte, principalmente sobre os caminhoneiros autônomos, que estavam
questionando a política de preços da Petrobrás e foram a vanguarda do movimento. Portanto, não muda
em nada o conteúdo e crítica fundamental em relação a participação empresarial.
Por último, sobre a pauta de intervenção militar ou
preparação para o golpe. Primeiro, é preciso esclarecer que estamos vivendo uma
situação de intervenção militar preventiva, que tem como balão de ensaio a
intervenção no Rio de Janeiro. Isso significa que o exército está cada vez mais
ganhando força política e militarizando a vida social no Brasil, com o objetivo
de garantir a ordem, ou seja, a estabilidade do sistema de poder e econômico.
Portanto, não é o movimento grevista que impulsiona essa intervenção militar
preventiva e sim a profunda crise econômica e política que vivemos.
Claro que alguns setores de direita conseguiram adentrar
ideologicamente no seio dos caminhoneiros durante os últimos anos. Diante dos
sucessivos aumentos nos preços do diesel, que aliado a insatisfação geral,
esses mesmos setores de direita, que se encontram no seio dos caminhoneiros, começaram
a pregar que a solução para o país é a moralização do Estado, que só será conseguida através de uma intervenção
militar. Esse discurso encontrou uma relativa força e em vários piquetes era
possível ver faixas em defesa dessa bandeira, porém, na maioria dos casos, não
era uma posição clara em defesa da ditadura de 64, mas muito mais um pensamento ingênuo de que o
exército é uma instituição neutra e honesta, que poderá retirar os políticos do poder, restaurando a
soberania popular, acabando com a corrupção e dando uma ordem ao país,
principalmente combatendo a quadrilha do Temer. Porém, isso não passa de uma
ilusão, pois o exército vai garantir a permanência do governo Temer até o fim e
vai manter a ordem para o imperialismo e exploração do povo brasileiro, pois
ele também é um serviçal do imperialismo, da grande burguesia e dos
latifundiários. Esse fato só revela um desconhecimento de muitos sobre o que
aconteceu durante o regime militar, sendo necessário esclarecer que os
militares nunca tiveram ao lado do povo, sempre governaram para as classes
dominantes e para o imperialismo. Também demonstra que os revolucionários
precisam atuar no meio dos caminhoneiros e dos trabalhadores, travando a luta
ideológica, esclarecendo e desmascarando as teses reacionárias e antipovo, pois
elas não não servem para dar uma resposta e solução para os problemas do
Brasil.
Os motivos que levaram a essa greve continuam presentes. O
governo Temer não recuou em sua política contra os trabalhadores e o povo
brasileiro. Ao contrário, o governo Temer já anunciou que vai cortar recursos
da saúde e da educação para pagar a suposta “conta” provocada pelos subsídios à
Petrobrás. Porém, os brasileiros não têm conta nenhuma para pagar, pois a
Petrobrás precisa servir aos interesses do povo brasileiro e não de seus
acionistas ou das grandes petrolíferas. Com o apoio dos monopólios dos meios de
comunicação, estão justificando toda a repressão contra o movimento e vão
tentar jogar nas nossas costas toda a conta. Em breve, o preço da gasolina e do
óleo diesel tendem a aumentar, e se não resistirmos e mudarmos os rumos das
coisas, iremos continuar cada vez mais explorados para beneficiar meia dúzia de
parasitas.
O movimento já teve uma importante vitória política com a
derrubada de Pedro Parente da presidência da Petrobrás e com o congelamento
temporário do aumento do diesel. Temos que organizar os trabalhadores para uma
greve geral que revogue todas as contrarreformas e impedir toda a exploração
contra o povo brasileiro.