sábado, 18 de maio de 2013

VIDA NO MAGISTÉRIO, DA UTOPIA AO DESENCANTO


 O idealismo que nos move quando ingressamos em um curso superior nem sempre é capaz de superar as frustrações que a vida profissional se encarrega de colocar em nosso caminho. Não são sonhos ou expectativas jogadas ao vento, mas sim um olhar que vai perdendo o brilho a cada nova decepção.
                A maioria dos estudantes de licenciatura  se vê encantado com exemplos como os do filme "Escritores da Liberdade", onde uma professora consegue mudar uma realidade de violência, e supera tudo com incentivo à leitura e à escrita. Ao fim deste filme é possível sentir uma mistura de otimismo, de esperança, de capacidade , de desejo de mudança.
                Outro momento mágico da graduação são os texto de Paulo Freire, onde a realidade do homem trabalhador é transformada em objeto de estudo, de estruturação de  uma pratica política e transformadora. Seus ensinamentos são bem mais do que um método de alfabetização, pois ele propõe uma formação política e critica, afirmando que " ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão". Essa liberdade é fruto do conhecimento, construído de forma coletiva e participativa.
                E nesse embalo de encantos e expectativa, finalmente lhe é apresentada a sala de aula, local onde se acredita poder realizar uma verdadeira revolução, de conhecimentos, de descobertas, de partilha.  A escola é o lócus sagrado, onde todos os seus mais profundos ideais vão ser colocados em prática. Ali, toda a metamorfose vai  acontecer bem em frente aos teus olhos.
                Com o passar dos dias, dos meses , dos anos, o brilho do olhar desse profissional vai cessando. Muitos não entende os seus motivos, muitos nem se importam com isso, desde que o professor não esteja ausente, desde que ele não faça greve, afinal, quem vai ficar com as crianças para os pais trabalharem? Quem vai  ensinar a tarefa para a criança? afinal, isso é obrigação do professor.
                Participação da família da vida escolar da criança? Comparecer na escola? Só se meu filho  machucar, se perder o lápis ou se tiver festa com lanche no dia das mães, do contrário, não adianta nem querer,  porque ninguém tem tempo pra essas bobagens. Não há tempo para comparecer a reunião de pais, mesmo quando são realizadas a noite para alcançar um número maior de participantes. Comparecer para conversar com o professor sobre o comportamento do filho? " Pra que, esse professor tá é implicando com meu filho".
                Há ainda um questionamento muito sério em relação as cobranças por índices de qualidade dentro de uma realidade de unidades educacionais que mais parecem um muro das lamentações para a comunidade.  Lembrando que toda a falta de estrutura  aliada a um número enorme de alunos colocados em uma mesma sala, deve resultar em uma matemática inalcançável chamada IDEB.
                Mas professor ganha bem, pode trabalhar até três períodos. "Pode não! Tem que trabalhar três períodos" se desejar ter uma vida digna e poder pagar as suas contas . E ainda tem que bancar suas pós graduações, seus cursos para mudança de letra, as vezes até as Xérox feitas por cursos de formação. Ainda lembrando que o piso salarial do professor é vergonhoso frente as responsabilidades assumidas, e o tempo de estudo que um professor deve ter.
                Aqui ficam alguns questionamentos, que vem indicando o porque do pequeno número de egressos nos cursos de licenciatura.  Esse fenômeno tende a se expandir, e nesse instante se percebe que foi cruzada a linha entre a utopia e o desencanto.