sábado, 25 de maio de 2013

SME ORGANIZA SEMINÁRIO E TRAZ PALESTRANTE PRECONCEITUSOA DA UFAL

DISCRIMINAÇÃO OFICIALIZADA

Por razões históricas a Educação Física escolar foi colocada no rodapé das disciplinas escolares, pois a mesma já sofreu influências das ideologias médica, militar e esportiva entre outras, onde era utilizada com finalidades político-ideológicas, sendo instrumento de formação de corpos higiênicos, esportivizados e apolíticos, garantindo assim, a produção, a ordem e a moral, princípios estes necessários para a manutenção da hegemonia capitalista.

A Educação Física vem tentando reencontrar sua especificidade e se afirmar como disciplina relevante do currículo, baseada em uma visão de formação integral do ser humano, porém, enfrenta dificuldade para superar a visão dicotômica corpo/mente que orientou sua prática desde sua chegada ao Brasil, o que a coloca num patamar inferior na hierarquia das disciplinas escolares, que privilegia os conteúdos de linguagem oral e escrita, cálculos, etc., em detrimento das atividades “físicas”.

Segundo Bracht (1999:3),
o papel da corporeidade na aprendizagem foi historicamente subestimado, negligenciado. O déficit de dignidade dado ao corpo vinha de seu caráter secundário perante a força emancipatória do espírito ou da razão. Portanto, esse corpo precisa ser alvo de educação. Educar o comportamento corporal é educar o comportamento humano.

Devido a esta problemática, a Educação Física, apesar de fazer parte da Base Comum Nacional das disciplinas do currículo escolar da educação básica, é desvalorizada no contexto escolar por ser vista apenas uma atividade e não uma disciplina curricular.

Com a “redemocratização“ do país, fundamentadas em extensas produções dos pesquisadores e intelectuais da área da Educação Física, as concepções progressistas ganharam terreno e vem mudando significativamente sua prática.

A década de 80 foi um marco para o ensino da Educação Física no Brasil. Suas estruturas foram abaladas por estudos, debates, congressos e publicações. O fim da ditadura militar permitiu que os anseios e angústias que atormentavam os professores e intelectuais da área fossem discutidos publicamente, gerando questionamentos sobre sua trajetória como componente curricular.

De acordo com Vago (1997:p.1), questionou-se as influências das ideologias médica e militar que fundamentava o modelo francês, trazido para o Brasil no final do século XIX e que durou até meados do século XX, cujas práticas de higienização e disciplinarização dos corpos visava a manutenção da ordem e a preparação física de mão de obra para o mundo do trabalho. A pedagogia militar é a da ordem, moral e obediência, voltada para a formação de contigente para a defesa nacional enquanto a pedagogia médica responsabilizava a Educação Física como promotora da saúde física e mental, sem, no entanto se preocupar com as condições de vida da população em suas necessidades básicas como alimentação, saneamento, etc.

Os estudiosos da área questionaram ainda as teorias raciais que viam na eugenia a melhoria da raça e também a submissão da Educação Física ao esporte de rendimento – Educação Física como celeiro de atletas - cuja intenção era estimular as práticas esportivas baseada nos princípios de competição e racionalização além de desestimular os movimentos de protestos marcados pela insatisfação popular das classes urbanas resultantes da industrialização.

A entrada das ciências sociais na área da Educação Física (Bracht, 1999:p7), na década de 80, caracterizou se o chamado movimento renovador da  Educação Física brasileira, provocando o surgimento de novas possibilidades de práticas pedagógicas, na tentativa de superar o paradigma da aptidão física que orientou sua prática desde sua chegada ao Brasil, desenvolvida através da pedagogia tecnicista que se fundamentava na visão biológica  e utilitarista de homem, sem reflexão pedagógica.

Segundo Bracht(1999:p8),
Toda a discussão realizada no campo da pedagogia sobre o caráter reprodutor da escola e sobre as possibilidades de sua contribuição para uma transformação radical da sociedade capitalista foi absorvida pela EF. A década de 1980 foi fortemente marcada por essa influência, constituindo-se aos poucos uma corrente que inicialmente foi chamada de revolucionária, mas que também foi denominada de crítica e progressista.


Devido à necessidade de mudanças, surgem várias propostas de práticas pedagógicas comprometidas com a função político-social da educação, com uma visão crítica.

Apesar dos grandes avanços ocorridos nas últimas décadas, ainda temos muita luta consolidar e legitimar nossa prática profissional e superarmos os preconceitos intelectuais que permeiam a concepção de vários profissionais, inclusive da educação. Prova disto é a proposta absurda, preconceituosa, desrespeitosa, discriminatória e hierarquizada da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), que desenvolve um projeto de pesquisa e intervenção colaborativa nas escolas das redes pública municipal e estadual sob a coordenação da professora Marinaide, que após “diagnosticar” a precarização da formação docente e cientes da importância da formação continuada para os profissionais das referidas instituições, organizaram juntamente com as escolas uma grade horária que permite aos professores se reunirem um dia por semana no local e horário de trabalho para refletirem e repensarem sua prática pedagógica, porém, para viabilizar este encontro, os alunos ficam no laboratório de informática e com o professor de Educação Física, considerando-o como um mero recreador e a Educação Física como um apêndice das disciplinas escolares.

É inaceitável que uma profissional renomada, com um extenso currículo e mais de 20 anos de pesquisa compactue com uma proposta tão indecente e que a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia a considere um referencial pedagógico.

Fiquemos atentos, pois, segundo Moraes (2002:p.14)
A ação política, como se sabe, é exercida por meio de vários instrumentos. E um deles nem sempre devidamente considerado é a produção e difusão de ideias, imagens, valores. Dizer que algo é apenas “um discurso” ou “mero reflexo” pode ser perigoso, porque arrisca ignorar que enunciados são armas.


APROVAÇÃO DE MOÇÃO DE REPÚDIO A ESTA AÇÃO!
NÃO À HIERARQUIZAÇÃO CURRICULAR!
RESPEITO AOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA!



Adelvair Helena