DISCRIMINAÇÃO
OFICIALIZADA
Por razões históricas
a Educação Física escolar foi colocada no rodapé das disciplinas escolares, pois a mesma já sofreu
influências das ideologias médica, militar e esportiva entre outras, onde era
utilizada com finalidades político-ideológicas, sendo instrumento de formação
de corpos higiênicos, esportivizados e apolíticos, garantindo assim, a
produção, a ordem e a moral, princípios estes necessários para a manutenção da
hegemonia capitalista.
A Educação Física vem
tentando reencontrar sua especificidade e se afirmar como disciplina relevante
do currículo, baseada em uma visão de formação integral do ser humano, porém,
enfrenta dificuldade para superar a visão dicotômica corpo/mente que orientou
sua prática desde sua chegada ao Brasil, o que a coloca num patamar inferior na
hierarquia das disciplinas escolares, que privilegia os conteúdos de linguagem
oral e escrita, cálculos, etc., em detrimento das atividades “físicas”.
Segundo Bracht
(1999:3),
o
papel da corporeidade na aprendizagem foi historicamente subestimado,
negligenciado. O déficit de dignidade dado ao corpo vinha de seu caráter
secundário perante a força emancipatória do espírito ou da razão. Portanto,
esse corpo precisa ser alvo de educação. Educar o comportamento corporal é
educar o comportamento humano.
Devido a esta
problemática, a Educação Física, apesar de fazer parte da Base Comum Nacional das
disciplinas do currículo escolar da educação básica, é desvalorizada no contexto
escolar por ser vista apenas uma atividade e não uma disciplina curricular.
Com a “redemocratização“ do país,
fundamentadas em extensas produções dos pesquisadores e intelectuais da área da
Educação Física, as concepções progressistas ganharam terreno e vem mudando
significativamente sua prática.
A década de 80 foi um marco para o ensino da Educação
Física no Brasil. Suas estruturas foram abaladas por estudos, debates,
congressos e publicações. O fim da ditadura militar permitiu que os anseios e
angústias que atormentavam os professores e intelectuais da área fossem
discutidos publicamente, gerando questionamentos sobre sua trajetória como
componente curricular.
De acordo com Vago
(1997:p.1), questionou-se as influências das ideologias médica e militar que
fundamentava o modelo francês, trazido para o Brasil no final do século XIX e
que durou até meados do século XX, cujas práticas de higienização e
disciplinarização dos corpos visava a manutenção da ordem e a preparação física
de mão de obra para o mundo do trabalho. A pedagogia militar é a da ordem,
moral e obediência, voltada para a formação de contigente para a defesa
nacional enquanto a pedagogia médica responsabilizava a Educação Física como
promotora da saúde física e mental, sem, no entanto se preocupar com as
condições de vida da população em suas necessidades básicas como alimentação,
saneamento, etc.
Os estudiosos da área
questionaram ainda as teorias raciais que viam na eugenia a melhoria da raça e
também a submissão da Educação Física ao esporte de rendimento – Educação Física
como celeiro de atletas - cuja intenção era estimular as práticas esportivas
baseada nos princípios de competição e racionalização além de desestimular os
movimentos de protestos marcados pela insatisfação popular das classes urbanas
resultantes da industrialização.
A entrada das
ciências sociais na área da Educação Física (Bracht, 1999:p7), na década de 80,
caracterizou se o chamado movimento renovador da Educação Física brasileira, provocando o
surgimento de novas possibilidades de práticas pedagógicas, na tentativa de
superar o paradigma da aptidão física que orientou sua prática desde sua
chegada ao Brasil, desenvolvida através da pedagogia tecnicista que se
fundamentava na visão biológica e
utilitarista de homem, sem reflexão pedagógica.
Segundo Bracht(1999:p8),
Toda
a discussão realizada no campo da pedagogia sobre o caráter reprodutor da
escola e sobre as possibilidades de sua contribuição para uma transformação
radical da sociedade capitalista foi absorvida pela EF. A década de 1980 foi
fortemente marcada por essa influência, constituindo-se aos poucos uma corrente
que inicialmente foi chamada de revolucionária, mas que também foi denominada
de crítica e progressista.
Devido à necessidade
de mudanças, surgem várias propostas de práticas pedagógicas comprometidas com
a função político-social da educação, com uma visão crítica.
Apesar dos grandes avanços ocorridos nas últimas décadas,
ainda temos muita luta consolidar e legitimar nossa prática profissional e superarmos
os preconceitos intelectuais que permeiam a concepção de vários profissionais,
inclusive da educação. Prova disto é a proposta absurda, preconceituosa,
desrespeitosa, discriminatória e hierarquizada da UFAL (Universidade Federal de
Alagoas), que desenvolve um projeto de pesquisa e intervenção colaborativa nas
escolas das redes pública municipal e estadual sob a coordenação da professora
Marinaide, que após “diagnosticar” a precarização da formação docente e cientes
da importância da formação continuada para os profissionais das referidas instituições,
organizaram juntamente com as escolas uma grade horária que permite aos
professores se reunirem um dia por semana no local e horário de trabalho para
refletirem e repensarem sua prática pedagógica, porém, para viabilizar este
encontro, os alunos ficam no laboratório de informática e com o professor de
Educação Física, considerando-o como um mero recreador e a Educação Física como
um apêndice das disciplinas escolares.
É inaceitável que uma profissional renomada, com um
extenso currículo e mais de 20 anos de pesquisa compactue com uma proposta tão
indecente e que a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia a considere um
referencial pedagógico.
Fiquemos atentos, pois, segundo Moraes
(2002:p.14)
A ação política, como
se sabe, é exercida por meio de vários instrumentos. E um deles nem sempre
devidamente considerado é a produção e difusão de ideias, imagens, valores.
Dizer que algo é apenas “um discurso” ou “mero reflexo” pode ser perigoso,
porque arrisca ignorar que enunciados são armas.
APROVAÇÃO DE MOÇÃO DE
REPÚDIO A ESTA AÇÃO!
NÃO À HIERARQUIZAÇÃO
CURRICULAR!
RESPEITO AOS
PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA!
Adelvair Helena